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La revindicación de la Malvinas es un asunto que incumbe a todos los miembros de la comunidad hispana

Viva Cristo-Rei!!!

por José Luis Andrade

A tragédia cristera

Durante o séc. XIX e XX, o processo histórico do liberalismo capitalista procurou apoderar-se não só das riquezas dos nossos povos mas sobretudo das nossas consciências.

José Vasconcelos

O séc. XX foi indubitavelmente a época histórica em que mais mártires verteram o seu sangue como consequência da sua Fé em Cristo Salvador. Como vimos, a perseguição à Igreja Católica em Espanha, que atingiu o seu zénite durante a última Guerra Civil, teve uma dimensão holocáustica sem precedentes, nem mesmo no auge das mortandades do império romano. Mas já dez anos antes, no México, muitos mártires haviam servido de modelo e paradigma ao incontável número de cristãos que haveriam ainda de colher a graça do martírio nas fogueiras acesas pelos totalitarismos, nomeadamente em nome da tão espalhada utopia comunista. Parece-me, pois, importante ir ao sótão da nossa memória colectiva e reler essa saga gloriosa dos levantamentos mexicanos que ficaram conhecidos como a Guerra Cristera ou a Cristíada.

Há cerca de um ano, quando Rosa Maria Ojeda, eleita Miss México e candidata ao concurso Miss Universo, apresentou publicamente o traje livre que tencionava usar, caiu o Carmo e a Trindade. Não porque a señorita aparecesse excessivamente desnudada mas sim porque a sua longa saia apresentava a imagem da Virgem de Guadalupe e várias cenas do martirológio cristero, incluindo o que parecia ser o fuzilamento do Pe. Pró. O vestido era ainda adornado com escapulários e rosários pendendo livremente de um cinturão cartucheiro bem como um grande crucifixo peitoral, em jeito de colar. Desde os arcontes maçónicos aos sectores católicos afectos à Teologia da Libertação, passando por inocentes arautos do bom-gosto, choveu um coro de protestos; uns em nome da laica moral pública, outros em defesa da cicatrização de feridas que tinham sido abertas pelos acontecimentos ora recordados pelo vestido. O vestido tinha sido escolhido de um conjunto de trinta candidaturas. A estilista que o havia desenhado, Maria del Rayo Macias, afirmou-se disposta a redesenhá-lo desde que se mantivessem as imagens da Virgem e as evocações das mulheres cristeras. Somos descendentes de cristeros; quer queiram quer não isso é uma parte do que somos, afirmou.

Por este recentíssimo episódio podemos ver como a questão cristera continua a atrair ódios e paixões e, sobretudo, a recolher indeléveis convites ao enterro e olvido per omnia sæcula sæculorum.

Mas um récio Papa, João Paulo II de seu nome pétrico, entendeu o contrário e mandou trazer à luz da Cidade o testemunho dos humildes mártires que sucumbiram na afirmação e confirmação da sua fé. Desde gaiatos de 14 anos, como José Luís Sánchez del Rio, de Sahuayo, a velhinhos de 90.

Até há muito pouco tempo, a maioria dos católicos desconhecia completamente o alcance e ferocidade da perseguição contra a Igreja Católica por parte das autoridades mexicanas. Os historiadores mais mediáticos mal ou nunca se referem a essas tremendas campanhas de intolerância e fanatismo. Ao México, associamos sempre figuras revolucionárias que Hollywood nos tem servido em argumentos cinematográficos, mais ou menos no estilo western. A revolução liberal que tão impiedosamente perseguiu os católicos, acabou por ir devorando, um atrás doutro, os seus próprios filhos. Nomes como os dos presidentes Madero, Carranza, Obregón, Zapata e Pancho Villa são referenciados em díspares filmes. Todos eles reúnem a macabra característica de terem sido assassinados. Com efeito, esta época da História do México foi marcada por inúmeras conspirações e sublevações, revoltas indígenas de revindicação agrária, em guerras marcadas por uma crueldade atroz, no meio de contínuas ingerências dos E.U.A. Mas do drama cristero que culminou as várias vagas de perseguições religiosas pouco ou nada se sabe, pouco ou nada se vê. E, muitas vezes, quando se recorre à sua memória, é perversamente ao contrário como acontece no filme pretensamente quase auto-biográfico de Fernando Arrabal, Viva la muerte! em que a execução do pai surge, às mãos dos franquistas, através de um processo copiado dos colorados que o usaram várias vezes para executar cristeros. Em Pedro Páramo, de Juan Rulfo, transparece toda a tragédia da perseguição aos católicos desde o séc. XIX à revolução mexicana.  

A memória do martírio cristero surgirá sobretudo no apostolado de João Paulo II, quebrando anos de comprometido silêncio de alguns sectores da Igreja mexicana. Em 21 de Maio de 2000, o Papa João Paulo II (o senhor Wojtyła, segundo o protocolo de Estado Mexicano) canonizou um grupo de 25 mártires desse período que haviam sido beatificados a 22 de Novembro de 1992. Na sua maioria, eram padres que não tendo pegado em armas, se tinham no entanto recusado a abandonar os seus paroquianos, tendo sido assassinados pelas tropas governamentais.

O principal dirigente da Maçonaria no México, Jorge Gaviño Ambriz havia lançado uma virulenta campanha contra a canonização dos beatos porque eram cristeros e as guerras cristeras haviam custado a vida a mais de 70.000 mexicanos honestos. Apenas se esqueceu de mencionar as razões das revoltas e as circunstâncias que haviam rodeado os martírios. Gaviño ameaçou então bloquear as cerimónias e recorrer, se necessário, aos sectores progressistas da Igreja mexicana, afectos à Teologia da Libertação, para o apoiarem nesse desiderato. Para ele, habituado aos jogos de poder e ao controlo do PRI, a intenção de João Paulo II era apenas apoiar implicitamente o candidato da oposição Vicente Fox, tido por católico e inimigo da Maçonaria.

E a 20 de Novembro de 2005, em Guadalajara, (Estado de Jalisco, México) perante cerca de 80.000 pessoas, o Cardeal José Saraiva Martins, Prefeito para a Congregação da Causa dos Santos, proclamou Beatos Servos de Deus, 13 cristeros, sendo 10 leigos e 3 sacerdotes que caíram assassinados durante a perseguição religiosa dos anos callesistas.

Com efeito, a Igreja católica reconheceu como mártires várias pessoas que foram executadas durante as insurreições cristeras. O mais conhecido é talvez o jesuíta Padre Miguel Agustín Pro que, em 23 de Novembro de 1927, foi oficialmente fuzilado, sem julgamento prévio, pelo facto de o governo considerar que as suas actividades sacerdotais desafiavam a sua autoridade [1] . Quiseram fazer dele um exemplo dissuasor para prevenir o alastramento da revolta e levar os cristeros à rendição; para isso, publicitaram a execução (esperando que se acobardasse), divulgando as imagens por todos os meios de comunicação. O efeito conseguido acabou por ser o contrário. Os cristeros inspiraram-se no exemplo de martírio do Padre Pro e redobraram de força, recrudescendo a revolta. Foi beatificado em 1988.

 Mas afinal quem eram os cristeros ?

No México, a extraordinária ocasião da subida ao poder do General Victoriano Huerta, um índio de Jalisco que ocupou a presidência de 1913 a 1914, permitiu consagrar ao Sagrado Coração de Jesus, aquela república norte-americana. Depois de ter traído e assassinado o Presidente Madero, Huerta, sob a influência do embaixador americano, procurou o beneplácito da Igreja, como já anteriormente havia feito o seu predecessor, com o intuito de conseguir o apoio do clero para a pacificação social do país. Só assim, no meio de uma persistente e continuada perseguição religiosa, foi possível levar a cabo um acto solene na Catedral Metropolitana da Cidade do México. A solicitação do episcopado mexicano, Pio X, havia autorizado a consagração a Cristo-Rei, representado pela imagem do Sagrado Coração de Jesus, com a coroa e o ceptro para simbolizar a sua Realeza espiritual. Pela primeira vez, o grito Viva Cristo-Rei! (que, daí a uns anos, tanto se ouviria quer no México quer em Espanha) pôde ser escutado a 6 de Janeiro de 1914.

A 17 de Maio de 1927, nos primeiros tempos da insurreição que ficaria conhecida pela Cristíada, receberam os bispos mexicanos do Papa Pio XI, no meio de outras orientações espirituais, “a concessão da indulgência plenária, in articulo mortis, a todos os que, confessados ou comungados, ou pelo menos contritos, pronunciassem com os lábios, ou com o coração, a jaculatória Viva Cristo-Rei!, aceitando a morte como enviada pelo Senhor para remissão das nossas culpas”[2] . Como em cada execução organizada às ordens do governo mexicano os abatidos gritavam aquela jaculatória, ficaram conhecidos como Cristeros, por escarnecimento.

Antecedentes históricos

Ao contrário do que acontecera com as outras colónias espanholas do continente americano, em que as independências tinham sido promovidas e apoiadas pela maçonaria ao serviço do imperialismo anglo-saxónico, no México os gritos de revolta tiveram origem exactamente no pólo oposto. Indignados contra o que consideravam um governo contrário aos interesses do povo mexicano, vários elementos do baixo clero gritaram Viva Fernando VII e morra o mau governo!. Seria o início do processo de independência daquele país que em 1821, com o Plan de Iguala, se decide pela independência total, como monarquia constitucional. Ao ser a coroa oferecida sem êxito a Fernando VII de Espanha, ficou o Poder ao arbítrio das Cortes mexicanas. O imperador Miguel de Iturbide assume o poder de 1821 a 1824 mas, com a forte hostilidade da maçonaria, fortemente implantada nas classes burguesas crioulas, sob os auspícios das lojas do sul dos E.U.A., não sobrevive a uma revolta armada, tendo sido fuzilado em Padilla. É proclamada a República e até meados do século XIX o México perderá ingloriamente, a favor do seu vizinho do nordeste, mais de metade do seu território.

Com o advento da revolução liberal, com a sua característica virulência anti-cristã, sobe ao poder o ex-seminarista Benito Juárez, advogado de extracção social humilde, ligado a uma loja maçónica de Nova Orleães. Juárez promoveu a Constituição de 1857, de inspiração jacobina e, quatro anos depois, as Leis de Reforma, declaradamente hostis à Igreja. Foram estatizados o património e os bens da Igreja, suprimidas as ordens religiosas, secularizados os cemitérios, hospitais e organizações de beneficência católicos. No seu afã persecutório tentou mesmo criar uma Igreja cismástica, como hoje existe na China. Toda essa pressão deu origem a pontuais levantamentos de católicos indignados prontamente abafados em banhos de sangue (1858-61). A intolerância liberal chegou ao ponto de obrigar os funcionários públicos a jurarem concordar e zelar pelo cumprimento destas medidas e a deportar ou encarcerar os bispos e sacerdotes que manifestassem a sua indignação. As elites dirigentes, fortemente influenciadas pelo jacobinismo maçónico, detinham o poder e a força e prontamente esmagavam qualquer atitude mais recalcitrante. Com insurreições isoladas, sobretudo nos Estados de Jalisco, Michoacán, Puebla e Tlaxcala, o governo aguentou-se com o forte apoio WASP dos E.U.A..  Visto com o distanciamento que o tempo permite, Juárez comportou-se como um autêntico agente do imperialismo americano, levando o país quase à bancarrota. Os tratados McLane-Ocampo e Corwin-Doblado deram aos paternalistas vizinhos do norte concessões vergonhosas. Nem a sua condição étnica de índio zapoteca, o impediu de eliminar os baldios comunais dos indígenas o que, a par da desamortização dos bens da Igreja, levou ao enriquecimento da classe privilegiada, aumentando o latifundismo.

Foi durante o período de Juárez que se deu a efémera aventura de Maximiliano da Áustria, às ordens do imperador Napoleão III. As adaptatícias elites dominantes, maioritariamente maçónicas, rapidamente ofereceram a Maximiliano a presidência do Conselho Supremo das Lojas, o que ele declinou tendo, no entanto, indicado representantes que rapidamente receberam o grau 33. Apanhada entre dois fogos, a Igreja foi ainda mais vexada e perseguida, embora os juaristas tentassem o seu apoio para o que diziam ser a causa nacional. O pobre imperador títere viria a ser derrotado e fuzilado em Querétaro e Juárez regressou ao poder até ser substituído por outro ex-seminarista, Lerdo de Tejada que retomou a perseguição à Igreja Católica, favorecendo despudoradamente o protestantismo sob orientação americana. Ainda sem ter cumprido um ano de mandato, proibiu as manifestações religiosas fora dos templos o que provocou novos levantamentos armados do povo católico, na guerra denominada dos Religioneros.

Todo o lamaçal do período juarista havia dividido os estratos sociais influentes e dominantes na condução da política e um outro ex-seminarista, o general Porfírio Díaz desencadeou uma revolução que o manteria no poder durante quase trinta anos, tendo sido re-eleito oito vezes, em escrutínios fraudulentos de 1877 a 1910. Embora mantendo as leis persecutórias, a sua ditadura foi, na generalidade, mais suave para a Igreja; apenas na questão da liberdade educacional os governos de Porfírio Díaz manteriam a intransigência. Com a queda do porfiriato, e com a irrupção do que ficou conhecido como a revolução mexicana, o marxismo e o socialismo tornaram-se virulentos e os principais sustentáculos do argumentário do Poder.

Durante a presidência de Venustiano Carranza, a perseguição à Igreja recrudesceu; proibiram-se as missas de Defuntos e todas as outras, a não ser ao Domingo e em condições especiais, a água do baptismo tinha de ser da torneira e o Sacramento da Penitência só podia ser administrado a moribundos, em voz alta e na presença de um funcionário público. Esta sanha anti-cristã teve o seu cume na Constituição de 1917. O espírito anti-clerical chegou ao ridículo de laicizarem topónimos como, por exemplo, Vera Cruz que passou a ser Veracruz. Cinco dos artigos da constituição mexicana de 1917 visavam especialmente minimizar a influência da Igreja Católica na sociedade mexicana. O artigo 3º exigia uma educação laica e anti-católica nas escolas. O artigo 5º ilegalizava as ordens religiosas. O artigo 24º proibia o culto, em público, fora das igrejas, enquanto que o artigo 27º praticamente eliminava os direitos de propriedade das organizações religiosas. Finalmente, o artigo 130º retirava aos membros do clero direitos cívicos básicos; padres e hierarquia estavam proibidos de usar os seus hábitos, não tinham direito de voto e estavam proibidos de comentar assuntos da vida pública na imprensa.

Carranza foi deposto devido às maquinações e complots do seu antigo aliado Álvaro Obregón, em 1919. Apesar de partilhar do sentimento anticlerical do seu antecessor, aplicou as medidas anticlericais de forma selectiva e apenas em áreas em que o sentimento católico era mais fraco. Mas foi com Obregón no poder que se içaram bandeiras comunistas nas Catedrais da cidade do México e de Morelia, que um funcionário da própria casa do presidente fez explodir uma bomba no altar da veneradíssima Virgem de Guadalupe e que o Delegado Apostólico Monsenhor Philippi foi expulso.

Esta trégua precária entre o governo e a Igreja terminou com a eleição de Plutarco Elías Calles em 1924, no mesmo ano em que o Supremo Congresso Maçónico, reunido em Genebra, escolhia o México como laboratório social para o total afastamento da Igreja Católica das coisas públicas. Calles aplicou as leis anticatólicas com toda a sanha e arbitrariedade por todo o país, acrescentando a sua própria legislação anticatólica: em Junho de 1926, promulgou a Lei de Reforma do Código Penal, que viria a ficar conhecida como Lei Calles que, para além de estabelecer o número máximo de sacerdotes que poderia servir um determinado agregado populacional, e o seus templos, previa penas específicas para padres e religiosos que se atrevessem a violar os postulados da Constituição de 1917. Como exemplo, o uso vestes religiosas em público era penalizado em 500 pesos (embora, na prática, pudesse ser motivo para execução in situ, por desobediência). Um padre que criticasse o governo podia ser condenado a cinco anos de prisão. Nalguns Estados, a água benta foi proibida por razões higiénicas.

A resistência pacífica e a escalada da violência

Em resposta a estas medidas, a resistência das organizações católicas começou a intensificar-se. Entre elas, a Associação Católica da Juventude Mexicana (fundada em 1913), a sindicalista Confederação Nacional dos Trabalhadores Católicos e a União Popular, um partido político católico, fundados em 1922 e 1924, respectivamente, sob a influência de jovem jurista da ACJM, Anacleto González Flores. Partidário da resistência não-violenta e dos princípios da Rerum Novarum, o professor Cleto, como era conhecido, ir-se-ia ver, contudo, ultrapassado na sua estratégia pelo precipitar dos acontecimentos. Quase simultaneamente era criada uma outra organização: a Liga Nacional para a Defesa da Liberdade Religiosa, que apoiava o uso da força, se tal se mostrasse necessário à causa da liberdade.

11 de Julho de 1926 os bispos mexicanos votaram unanimemente a favor da suspensão de todas as manifestações públicas de culto, como resposta à Lei Calles. Para manter o protesto de indignação pacífico, promoveram um boicote comercial contra o governo que seria especialmente bem sucedido no México centro-ocidental (os estados Jalisco, Guanajuato, Aguascalientes, Zacatecas ). Os católicos residentes nestas regiões deixaram de ir aos cinemas e aos teatros e não utilizavam os transportes públicos; os professores deixaram de leccionar nas escolas seculares. No entanto, esta medida de resistência cívica não alcançou totalmente o seu objectivo porque, mais do que ao governo de Calles, afectou a burguesia endinheirada que fez pressão sobre a hierarquia para acabar com a acção, o que viria a acontecer em Outubro de 1926. Por esta razão os ricos ficaram malvistos e a sua reputação ainda piorou quando pagaram ao exército federal e à polícia para protecção. Mas, colateralmente, a iniciativa permitiu cimentar e testar uma organização civil a nível nacional que viria a dar frutos preciosos no futuro. A 6 de Setembro os bispos haviam enviado às Câmaras legislativas uma Petição solicitando a derrogação das leis, como Calles lhes havia cinicamente sugerido [3] . Como os bispos, à face da Lei, não eram cidadãos com direitos políticos, a petição foi recusada. Seguiu-se-lhe um Memorando de cidadãos católicos, suportado por cerca de 2 milhões de assinaturas para solicitar ao Congresso a derrogação das leis mas, como noutros casos semelhantes e bem recentes, quando o governo não governa para a população mas para os interesses dos grupos que o suportam, a petição foi para o lixo. Considerando este tipo de resistência cívica como sendo uma forma de insubordinação, Plutarco Calles ordenou o encerramento de numerosas igrejas católicas e o inventário meticuloso de todo o seu conteúdo. Esgotadas as vias pacíficas, aos militantes católicos apenas lhes restava a insurreição armada.

Em Guadalajara, no dia 3 de Agosto de 1926, cerca de 400 católicos armados encerraram-se na igreja de Nossa Senhora de Guadalupe, alarmados pelo rumor de que o governo tencionava encerrar e destruir o Santuário. Envolveram-se num tiroteio com tropas do governo, rendendo-se apenas quando ficaram sem munições. Este confronto terá causado a morte a 18 pessoas e 40 feridos.

No dia seguinte, em Sahuayo, Michoacán, a igreja paroquial local foi invadida por 240 soldados governamentais, assassinando o padre da paróquia e o seu vigário. Em 14 de Agosto, agentes governamentais levaram a cabo a eliminação da delegação da Associação Católica da Juventude em Chalchihuites, Zacatecas, executando o seu director espiritual, o padre Luis Bátiz Sainz.

A partir daqui os acontecimentos suceder-se-iam de forma muito rápida. Um bando de camponeses sob a liderança de Pedro Quintanar, ao tomar conhecimento da morte do padre Bátiz, ocupou a tesouraria local e ergueu o estandarte da rebelião. Outro levantamento foi liderado pelo presidente da Câmara de Pénjamo, Guanajuato, Luis Navarro Origel, com início em 28 de Setembro. Os seus homens foram derrotados pelo exército federal em terreno aberto, junto daquela localidade, mas retiraram-se para as montanhas onde continuaram como guerrilheiros. Seguiu-se um outro levantamento em Durango, liderado por Trinidad Mora em 29 de Setembro e, em 4 de Outubro, a sublevação acaudilhada pelo antigo general Rodolfo Gallegos, no Sul de Guanajuato. Ambos foram obrigados a recorrer a tácticas de guerrilha, pois não podiam fazer face ao exército federal em campo aberto.

Entretanto, os rebeldes em Jalisco (particularmente na região a Norte de Guadalajara) começaram a reunir as suas forças. Esta região tornou-se o foco principal da rebelião liderada por René Capistran Garza, líder da Associação Católica da Juventude Mexicana, que teve início a 1 de Janeiro de 1927.

E é a Guerra!

A insurreição teve formalmente início com a publicação de um manifesto de Garza, no dia de Ano Novo, intitulado A la Nación. Nele declarava que é chegada a hora da batalha e a hora da vitória pertence a Deus. Com esta declaração, o estado de Jalisco que parecera mais ou menos calmo desde os acontecimentos de Guadalajara, inflamou-se. Grupos de rebeldes, movimentando-se na região conhecida como Los Altos, a Nordeste de Guadalajara, começaram a ocupar aldeias equipados apenas com antigos mosquetes e paus. O seu grito de batalha era ¡Viva Cristo Rey! ¡Viva la Virgen de Guadalupe! O professor Cleto declarou à sua pacífica União Popular que apesar de não concordar com os métodos armados estava pessoalmente com a direcção da LDLR, na bélica aventura em que embarcara mas da qual queria ver o partido afastado já que não fora concebido como um instrumento de luta armada.

No início, o governo de Calles não levou esta ameaça muito a sério. Plutarco Calles que considerava a devoção católica uma coisa de mulheres e crianças, chamava a Jalisco o galinheiro da República. Os rebeldes conseguiam bons resultados frente às milícias rurais do governo ditas agrárias e face às jacobinas milícias da Defesa Social, mas eram sempre derrotados pelas tropas federais que guardavam as principais cidades. Por esta altura, o exército federal contava com cerca de 80 mil homens. Quando o comandante federal de Jalisco, general Jesús Ferreira, iniciou a campanha contra os insurrectos, afirmou sobranceiramente que se trataria mais de uma caçada que de uma campanha militar.

Porém, os rebeldes, que na sua grande maioria não tinha experiência militar prévia, planeavam bem as suas acções armadas. Os mais bem sucedidos líderes rebeldes foram Jesús Degollado (farmacêutico), Victoriano Ramírez (trabalhador rural) e dois padres [4] , Aristeo Pedroza e José Reyes Vega. Apenas cinco padres participaram activamente na luta armada, embora tenha havido 15 capelães e, de uma maneira ou de outra, 25 sacerdotes apoiaram, de perto, os cristeros.

Para muitos Cristeros, as motivações religiosas da rebelião eram reforçadas por outras subjacentes preocupações de natureza social. Na região dos Altos de Jalisco, ponto fulcral da rebelião cristera, a estrutura da propriedade da terra tinha evoluído para uma forte concentração do tipo rancho. A elite crioula do México, influenciada pelas correntes jacobinas da Europa e dos Estados Unidos, promoveu as leis da desamortização que nacionalizaram os bens afectos à Igreja e os baldios municipais e das comunidades indígenas e da qual viria a ser a grande beneficiária. Tipicamente, havia proprietários, muitas vezes absentistas, que alugavam a meeiros a exploração da terra; metade da colheita pertencia ao dono da terra. Este, havia igualmente fornecido, a título de empréstimo, as alfaias, as juntas, as sementes e mesmo dinheiro, para fazer face a eventualidades que sempre aconteciam (doenças, partos, casamentos, funerais, etc.). Para o meeiro, a obrigação era simples: ou dinheiro na jaqueta ou milho na carreta!, como diziam os proprietários. Para estes rendeiros e para os assalariados agrícolas em geral, tal sistema só podia levar ao empobrecimento crescente enquanto que os proprietários acumulavam lucros. Apesar de muitos dos agrários serem ao mesmo tempo católicos convictos, não é de admirar que tal panorama de injustiça social fosse o alfobre em que a semente da revolta florescesse mais facilmente. E a tropa cristera, reunida à volta dos seus ícones sagrados era essencialmente constituída por meeiros e peões. Era no seu padrecito que confiavam e era em Cristo que punham a sua esperança de se libertarem da opressão e do desespero. Era o sacerdote do México rural que ensinava os pobres a ler e escrever contrariando os desejos dos terratenentes mais reaccionários e o laicismo imposto pelo governo. Os fazendeiros, mesmo os católicos, ora apoiavam o governo, por conveniência, ora os cristeros por medo. Muitos optaram por se retirar para o estrangeiro.

Em 23 de Fevereiro de 1927, os Cristeros derrotaram pela primeira vez as tropas federais em San Francisco del Rincón, no Guanajuato, seguindo-se outra vitória em San Julián, Jalisco. Contudo, a rebelião seria quase extinta em 19 de Abril, quando o controverso padre Vega liderou o assalto a um comboio que pensava levar um carregamento de dinheiro e armas. Durante o tiroteio que se seguiu, o seu irmão foi morto e o padre Vega, completamente fora de si, mandou incendiar as carruagens do comboio, causando a morte de 51 passageiros. Esta atrocidade colocou uma boa parte da opinião pública contra os Cristeros.

O governo começou a transferir os civis para os grandes centros populacionais, impedindo-os de fornecer mantimentos aos rebeldes. Ao chegar o Verão, a rebelião estava quase totalmente dominada. Garza abandonou a liderança em Julho, após uma tentativa falhada de obtenção de fundos nos Estados Unidos. Mas o movimento rebelde ganhou nova vida com os esforços de Victoriano Ramírez, conhecido como El Catorce [5] . Este era analfabeto mas um comandante guerrilheiro nato. Fez ressuscitar a rebelião, permitindo à Liga Nacional para a Defesa da Liberdade Religiosa contratar um estratega, um mercenário que exigiu o dobro do salário de um general federal. Enrique Gorostieta era afastado do catolicismo, ao ponto de fazer troça da religiosidade das suas próprias tropas. Apesar da sua falta de convicções católicas, fez um trabalho profissional no treino das tropas rebeldes, produzindo unidades disciplinadas e uniformizadas. Gradualmente, os Cristeros começaram a re-assumir o controlo do conflito.

Em 21 de Junho de 1927, foi formada em Zapopan a primeira unidade feminina (que viriam a ficar conhecidas como las brigadas bonitas) de Cristeros (a brigada de Santa Joana d’Arc ). Fundada por 17 mulheres, em pouco tempo contava com 135 membros. A sua missão consistia em conseguir dinheiro, armas, provisões e informações para os homens combatentes; também auxiliavam os feridos. Em Março de 1928 havia cerca de 10.000 mulheres envolvidas. Muitas contrabandeavam armas para as zonas de combate, transportando-as escondidas em carroças carregadas de cereais ou cimento. No final da guerra chegaram a cerca de 25 000.

Os Cristeros mantiveram a iniciativa do ataque em 1928 e 1929, com o governo federal a enfrentar uma nova crise: uma revolta entre os militares, liderada por Arnulfo R. Gómez em Veracruz. Os Cristeros tentaram tirar partido dessa vantagem atacando Guadalajara, em finais de Março. O ataque falhou mas os rebeldes conseguiram tomar Tepatitlán de Morelos, a 19 de Abril. O padre Vega foi morto nesta batalha. Por outro lado, a sublevação de Veracruz foi prontamente controlada e, subitamente, os Cristeros tiveram de se confrontar com dissenções internas [6] . Em 2 de Junho, Gorostieta foi morto numa emboscada, montada por uma patrulha federal na Fazenda El Valle. Mas, nesta altura, os rebeldes contavam já com cerca de 50 000 homens armados e pareciam ser capazes de manter a rebelião por muito tempo, tendo assumido o comando Jesús Degollado.

A acção do Episcopado

A 2 de Outubro de 1927, o Cardeal Gasparri, Secretário de Estado do Vaticano, numa entrevista ao New York Times, conta os horrores da perseguição sofrida pela Igreja Católica no México e denuncia o silêncio das nações, por tolerarem tão selvagem perseguição em pleno séc. XX. Referia-se aos massacres perpetrados pelas tropas coloradas (vermelhas) sobre as populações suspeitas de apoiar os rebeldes cristeros. Questionado sobre se os prelados poderiam dispor dos bens da Igreja para apoio à causa cristera, o Secretário de Estado do Vaticano respondeu que se ele fosse um bispo mexicano venderia todas as suas jóias e preciosidades para o efeito.

Existe alguma controvérsia sobre se as acções dos Cristeros eram ou não apoiadas pelo episcopado ou pelo Papa. Em 18 de Outubro de 1926, Pio XI recebeu uma comissão de bispos mexicanos que o quiseram informar pessoalmente sobre a perseguição sistemática e concomitante resistência armada. No mês seguinte o Papa manda publicar a sua encíclica Iniquis Afflictisque em que condena a constituição mexicana d 1917 e as suas emendas callistas de 26, louvando a Liga e outras organizações católicas. Oficialmente, o episcopado mexicano nunca apoiou explicitamente a rebelião mas, de acordo com vários documentos e testemunhos, os rebeldes sentiam ter da parte do episcopado o reconhecimento da legitimidade da sua causa que nunca os condenou. Os dirigentes da Liga haviam enviado aos bispos um Memorando no qual solicitavam que a sublevação não fosse condenada e que os prelados influíssem na formação das consciências para que o levantamento fosse considerado lícito, meritório e de legítima defesa. Logo depois, Mons. Ruiz y Flores e Mons. Díaz Barreto recebem os responsáveis da Liga e comunicam-lhes que no tocante àqueles pontos, a resposta era positiva e unânime. O bispo de Guadalajara, José Francisco Orozco y Jiménez, permaneceu próximo dos rebeldes; apesar de rejeitar formalmente a revolta armada, não estava disposto a abandonar o seu rebanho. Muitos historiadores modernos (os do costume) consideram-no mesmo o verdadeiro líder do movimento. Há, no entanto, historiadores que dizem que exceptuando dois casos, o episcopado era intrinsecamente hostil ao movimento. Após o ataque ao comboio liderado pelo padre Vega, os bispos foram expulsos do México mas continuariam a tentar influenciar o resultado do conflito a partir do exterior.

Em Outubro de 1927 o embaixador dos Estados Unidos no México, Dwight Whitney Morrow, iniciou uma série de contactos com Calles, sempre ao pequeno-almoço [7] , em que os dois discutiam toda uma variedade de assuntos, desde os levantamentos religiosos, ao petróleo e à irrigação. Morrow, banqueiro ligado à J.P. Morgan, protestante e maçon, dizia pretender que o conflito terminasse por razões humanitárias mas o intuito que tinha em vista era encontrar uma aberta para conseguir o monopólio americano para a exploração do petróleo do México e das grandes obras públicas. Para melhor convencer os bispos, socorreu-se inicialmente do padre John Burke da National Catholic Welfare Conference. A Santa Sé encontrava-se também envolvida na busca da paz [8] mas aconselhava prudência perante as iniciativas americanas.

O mandato presidencial de Calles aproximava-se do fim e o presidente eleito, Álvaro Obregón, deveria tomar posse em 1 de Dezembro. Porém, foi assassinado por um radical católico (José Toral) em 17 de Julho, facto que pôs seriamente em causa o processo de paz então em curso. O Congresso nomeou então Emílio Portes Gil presidente interino em Setembro, marcando novas eleições para Novembro de 1929. Portes Gil era mais aberto em relação à Igreja do que Calles havia sido, permitindo a Morrow e Burke reiniciar a sua iniciativa de paz.

Portes Gil terá dito a um correspondente estrangeiro em Maio de 1929 que o clero católico poderia, quando assim o desejasse, retomar o exercício dos seus ritos e práticas com uma única obrigação - a de respeitar as leis do país. No dia seguinte, o arcebispo exilado Leopoldo Ruíz y Flores emitiu uma declaração afirmando que a hierarquia tinha decidido suspender o culto porque não era capaz de aceitar a forma arbitrária como as leis eram aplicadas no país.

Morrow conseguiu o acordo entre as partes em 21 de Junho de 1929. O pacto informal que ele elaborou em inglês, os chamados arreglos [9] , permitiria retomar o culto católico no México e fazia três concessões: apenas os padres nomeados por superiores hierárquicos seriam obrigados a registar-se, a educação religiosa seria permitida nas igrejas (mas não nas escolas), e todos os cidadãos, incluindo o clero, poderiam efectuar petições para reformar as leis. Mas o ponto mais importante dos arreglos era que a Igreja recuperaria o direito a usufruir das suas propriedades e os padres recuperavam o direito de viver nessas mesmas propriedades. Legalmente falando, a Igreja não podia possuir propriedade imobiliária, e as suas antigas instalações permaneciam propriedade federal. No entanto, a Igreja tomou o controlo destas instalações e o governo nunca voltou a tentar ficar com elas. Era um arranjo conveniente para as duas partes e o apoio da hierarquia da Igreja aos rebeldes cessou. Para muitos católicos a hierarquia tinha aceite o suborno.

Os arreglos conduziram a guerra a um desfecho pouco comum. Nos últimos dois anos, muitos oficiais anticlericais que eram hostis ao governo federal por outras razões, haviam-se juntado aos rebeldes. Quando os arreglos vieram a público, apenas uma minoria dos rebeldes regressou a suas casas: aqueles que sentiam que a sua guerra havia sido ganha. Uma vez que as opiniões da Liga e dos rebeldes, que tanto sangue haviam derramado, não tinham sido ouvidas nas conversações, muitos deles sentiram-se traídos e alguns continuaram a combater. Os protestos não se fizeram esperar, e Roma teve de proibir que se falasse mais sobre o pacto que não protegeu a vida daqueles que se havia revoltado pela perseguição à liberdade do exercício religioso. Criou-se uma profunda divisão entre o alto clero, considerado pouco solidário quando não traidor, e aqueles que, desconfiados, insistiam em levar a guerra por diante. Os bispos acatavam a Constituição e o governo federal prometia fechar os olhos à fiscalização do cumprimento da Lei. Para os que não acataram de imediato a ordem de cessar-fogo, a hierarquia da Igreja ameaçou-os de excomunhão o que levou muitos, apesar da forte sensação de traição mas obedecendo, a depor as armas e, gradualmente, a rebelião foi terminando. Os da Liga e os cristeros em geral, tinham a convicção de que o Pacto era um embuste e que ao entregarem as armas e abandonar a clandestinidade, a morte era mais que certa. Fizeram-no, no entanto, porque era a Igreja que assim o mandava e a sua Fidelidade e Obediência era a toda a prova. Como é evidente este facto pressupôs uma profunda e dura prova de fé para os cristeros que, na sua maioria, se mantiveram fiéis à Igreja e próximos dos sacerdotes que durante o conflito os tinham apoiado. Mas é legítimo que nos interroguemos, como faz a socióloga Vasquez Paredes, sobre até que ponto a ruptura da solidariedade do alto clero mexicano com o seu rebanho do centro-oeste não influiu no cada vez maior leque de opções religiosas não católicas que, posteriormente à guerra, se veio a desenvolver nessa mesma região.

Por outro lado, os chefes, temendo ser julgados como traidores, tentaram manter a rebelião. Os seus esforços falharam e muitos foram capturados e fuzilados, enquanto outros escaparam para San Luis Potosí onde o general Saturnino Cedillo lhes concedeu refúgio. Em Tabasco, pelo contrário continuaram proibidos os ministros do culto pelo fanático governador anti-clerical, Garrido Canabal que chegou ao cúmulo de pôr aos filhos os nomes Lenine e Lucifer.

Em 27 de Junho, os sinos ouviram-se no México pela primeira vez em quase três anos. A guerra custou a vida a cerca de 90 000 pessoas: 56 882 no lado federal e cerca de 30 000 no dos Cristeros. A estes números há que somar os numerosos civis (e Cristeros desarmados) assassinados em ofensivas anticlericais após o fim da guerra e que ainda haviam de levar a um segundo levantamento em 1934, conhecido como La Segunda. Conforme declarado por Portes Gil, a Lei Calles permaneceu nos livros, mas não foi feita qualquer tentativa organizada por parte do governo federal com vista à sua aplicação efectiva. Ainda assim, em várias localidades, a perseguição de padres católicos prosseguiu, baseada na interpretação da lei feita pelas autoridades locais. E em 1933 apenas havia para todo o México 197 sacerdotes ou seja menos de um por cada 80.000 habitante. Apenas em 1941 se rendeu o último chefe guerrilheiro cristero, Federico Vázquez, em Durango.

Em 1993 o governo do México concedeu à Igreja um precário reconhecimento legal como associação religiosa e estabeleceu relações diplomáticas com a Santa Sé. As provisões anticlericais continuam em vigor em 2005, apesar de já não serem aplicadas.

A Cristíada, outra comum designação das guerras cristeras, deixou uma indelével marca na cultura popular mexicana. Na sua música, muitas foram as canções que recordaram para sempre a epopeia. De entre os vários corridos, estilo musical popular, permito-me seleccionar

El martes me fusilan

El martes me fusilan
a las seis de la mañana
Por creer en Dios eterno
Y en la gran Guadalupana.
Me encontraron una estampa
de Jesús en el sombrero;
Por eso me sentenciaron,
porque yo soy un cristero.
Es por eso ‘ me fusilan

el martes por la mañana;
Matarán mi cuerpo inútil
pero nunca, nunca mi alma.
Yo les digo a mis verdugos
que quiero ‘ me crucifiquen,
Y una vez crucificado
entonces usen sus rifles.


Adiós sierras de Jalisco,
Michoacán y Guanajuato,
Donde combatí  al gobierno,
que siempre salio corriendo.
Me agarraron de rodillas
adorando a Jesucristo;
Sabían que no había defensa
en ese santo recinto.
Soy labriego por herencia,
Jalisciense de nacencia ;
No tengo más dios que Cristo
porque me dio la existencia.
Con matarme no se acaba
la creencia en Dios eterno.
Muchos quedan en la lucha
y otros que vienen naciendo.
Es por eso ‘ me fusilan
el martes por la mañana.


[¡Viva Cristo Rey!]

·- ·-· -······-·
José Luis Andrade


[1] Usaram como justificação a sua (falsa) participação num atentado a Obregón. O verdadeiro autor para poupar a vida de Pro, Luís Segura Vilchis entregou-se mas acabariam todos fuzilados.

[2] Alguns autores negaram a existência deste documento oficial mas López Beltrán publica uma foto do mesmo na sua obra

[3] Calles ao receber uma delegação do episcopado mexicano em 21 de Agosto de 26 havia-lhes dito:

Têm apenas dois caminhos: sujeitar-se à Lei ou lançar-se na luta armada!

[4] Os dois padres-comandantes, o padre Vega e o padre Pedroza, eram soldados natos. O padre Vega tinha reputação de beber excessivamente e de ignorar frequentemente o seu voto de castidade. Por seu lado, o padre Pedroza era eticamente impoluto e firme e fiel aos seus votos sacerdotais. Porém, o facto de ambos terem pegado em armas tornou-se problemático do ponto de vista da teologia sacramental católica. Ironicamente, para não dizer hipocritamente, foram os defensores da teologia da libertação, cúmplices frequentes dos movimentos marxistas terroristas quem mais se encarniçou contra a memória dos cristeros e dos padres que os apoiaram.

[5] Segundo a lenda esta alcunha teve origem no facto de, após a sua evasão da prisão, ter morto todos os catorze homens que tinham sido enviados em sua perseguição. Teria depois enviado uma mensagem ao presidente da Câmara, e seu tio, dizendo-lhe que no futuro não deveria enviar tão poucos homens atrás dele.

[6] Mário Valdés, que muitos historiadores crêem ter sido um agente governamental, conseguiu inflamar os ânimos contra El Catorce, levando à execução deste após uma condenação por um arremedo de tribunal marcial.

[7] O que lhe valeu o epíteto nos órgãos de comunicação social dos E.U.A. de diplomata bacon and eggs.

[8] Há quem afirme que, com a chegada de Herbert Hoover à Casa Branca, depois de ter derrotado o candidato democrata, o católico Al Smith, influentes personalidades maçónicas, mormente de rito escocês, fizeram chegar ao cardeal Pacelli, através do alemão Pe. Gruber, o seu desejo de pacificar os conflitos abertos com a Igreja em várias partes do mundo.

[9] Estes arranjos traduziram-se por duas declarações separadas, uma por Portes Gil e outra pelo Arcebispo de Morelia, Leopoldo Ruíz y Flores, em nome de todo o Clero católico (o que era falso) e na qualidade de Delegado Apostólico Ad Referendum sem no entanto ter cumprido as orientações do Papa. Como se diria na gíria, deixou-se papar... Tinha vindo dos E.U.A., num vagão de comboio, incomunicável, acompanhado apenas por Pascual Díaz y Barreto, S.J., o único bispo que havia mostrado empenho em conseguir um acordo com os callistas. Morrow impediu que o clero mexicano ou representantes dos rebeldes ou da Liga tivessem acesso aos dois negociadores, então instalados em casa do banqueiro Legorreta. Apenas os sacerdotes americanos Edmund Walsh, S.J., Wilfrid e Parsons e o embaixador do Chile.a eles tiveram acesso. O resultado ficou à vista.



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